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Eletrificação dos pesados - Um caminho com desafio, mas com futuro

31 julho 2025

A eletrificação dos camiões enfrenta obstáculos, como a falta de infraestrutura adequada. Estações pensadas para veículos ligeiros dificultam o carregamento de pesados, exigem manobras complexas e aumentam o tempo de paragem, gerando atrasos e congestionamentos.

A transição energética alcançou o setor automóvel com grande impacto, abrangendo também os veículos pesados. Todavia, a eletrificação dos camiões enfrenta ainda obstáculos substanciais, sobretudo no que diz respeito à infraestrutura disponível. Atualmente, verifica-se que a rede de carregamento em muitas zonas da Europa, particularmente em Portugal, não está adequadamente preparada para acomodar veículos desta dimensão. A maioria das estações de carregamento foi concebida para veículos ligeiros. Em muitos casos, os condutores de veículos pesados de mercadorias necessitam de desatrelar o trator para o ligar a um posto de carregamento, uma manobra que é pouco prática e que aumenta o tempo de paragem. Imagine agora uma área de serviço com 20 ou 30 camiões elétricos à espera para carregar? Tal cenário resultaria num caos indesejável.

Além disso, a potência disponível nestes locais está longe de ser suficiente para responder às necessidades energéticas dos pesados. Um camião elétrico pode exigir várias centenas de kW para car­regar num tempo aceitável algo que, em muitos casos, está simplesmente fora do alcance da infraestrutura atual.

Contudo, nem todas as notícias são des­favoráveis. O transporte regional de mercadorias e de passageiros parece ser o primeiro segmento onde a ele­trificação será vantajosa. A autonomia dos veículos pesados elétricos atuais, embora limitada para rotas longas, já é suficiente para operações em áreas urbanas ou suburbanas. Dado que as distâncias são mais curtas, torna-se viável planear carregamentos em bases fixas, otimizando o tempo e a logística.

A inovação tem igualmente produzido soluções criativas. A Scania, por exemplo, está a desenvolver um sistema baseado em “power banks” montados em contentores, que podem ser deslocados para onde for necessário. Estes contentores são alimentados por energia renovável, nomeadamente energia hídrica, energia eólica ou energia fotovoltaica. A sua instalação é efetuada de forma estratégica em centros logísticos ou parques industriais.

O conceito é simples e promissor: transportar a energia até ao camião, em vez de transportar o camião até à energia.

Ainda que permaneça distante o ideal de uma rede integrada e funcional de carregamento para veículos pesados, é importante assinalar que o caminho está a ser trilhado. A transição será gradual, exigindo um investimento público e privado substancial, que deve ser acompanhado de soluções adaptadas à realidade do transporte pesado.

É inquestionável que o líder desta transformação em termos de inovação, planeamento e visão ocupará uma posição de destaque no que diz respeito ao futuro do transporte rodoviário.

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Europa e Ásia aceleram a transição 

A eletrificação dos camiões pesados pro­gride na Europa e na Ásia, impulsionada por objetivos ambientais e inovações tecnológicas. Todavia, enfrenta desafios como os elevados custos iniciais e a limi­tada infraestrutura. Os países europeus oferecem subsídios substanciais, como 72.000 euros por camião na Áustria, en­quanto a Comissão Europeia propõe um fundo de um milhão de euros. Na Ásia, a China e o Japão também implementaram incentivos semelhantes.

Os camiões elétricos apresentam be­nefícios operacionais, tais como um menor custo de manutenção e uma maior eficiência energética, o que os torna atraentes a longo prazo, especialmente em trajetos urbanos. Todavia, a escassez de estações de carregamento adequadas e a autonomia limitada constituem obs­táculos à expansão para rotas longas. Iniciativas como a Erinion da Scania, visam mitigar esses problemas.

A transição para camiões elétricos é uma tendência inevitável, contudo, é essencial que se invista em tecnolo­gia e infraestruturas para que esta se consolide.

Autocarros elétricos em Portugal: a revolução verde no transporte público

No contexto da urgente transição energética e da necessidade imperiosa de reduzir as emissões de carbono nas cidades, Portugal tem vindo a dar passos decisivos na modernização da mobilidade urbana. Entre as medidas implementadas, destaca-se a introdução de autocarros elétricos por diversas empresas de transporte coletivo, visando tornar os centros urbanos mais limpos, silenciosos e eficientes.

CARRIS (LISBOA) A Carris tem vindo a investir significa- tivamente na eletrificação da sua frota. Em 2024, a empresa adquiriu 44 novos autocarros totalmente elétricos, permi- tindo a operação de oito carreiras com emissões zero. A empresa prevê que, até 2026, 80% da sua frota esteja equipada com tecnologias de energia limpa. Este esforço enquadra-se na estratégia de descarbonização da cidade de Lisboa.

STCP (PORTO) A Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP) opera atualmente com cerca de 96 autocarros elétricos. Em 2024, a empresa reforçou esta aposta com a adjudicação de mais oito veículos midi elétricos à fabricante Zhongtong. A STCP atribui uma elevada prioridade à redução das emissões, bem como à melhoria contínua da experiência dos passageiros, assegurando veículos mais confortáveis e silenciosos.

CARRIS METROPOLITANA (ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA) A Carris Metropolitana, que abrange diversos municípios da AML, tem vindo a introduzir veículos elétricos em regiões como Setúbal, Palmela, Moita, Montijo, Alcochete e Barreiro. Está previsto que sejam realizados novos reforços de frota para a margem norte ainda em 2025, o que permitirá alargar a rede de mobilidade sustentável a toda a grande Lisboa.

TREVO (ÉVORA) Évora tornou-se um exemplo a nível nacional ao implementar uma rede de transportes totalmente elétrica através da empresa Trevo. Desde agosto de 2023, 23 viaturas elétricas, incluindo 14 mini-autocarros, operam diariamente na cidade. O projeto inclui também 13 pontos de carregamento e um sistema digital de bilhética.

ALSA TODI (MARGEM SUL) Na Margem Sul de Lisboa, a Alsa Todi efetuou um investimento em 44 autocarros elétricos e na respetiva infraestrutura de carregamento. A iniciativa é financiada parcialmente por fundos públicos e visa descarbonizar os serviços urbanos nas zonas operadas pela empresa.

FLIXBUS (LONGO CURSO) A empresa internacional Flixbus opera um serviço diário com um autocarro 100% elétrico na rota Lisboa–Porto. O veículo, da marca Yutong, apresenta uma autonomia de 400 km e permite uma poupança anual estimada de 150 toneladas de CO₂. Esta operação constitui uma estreia no âmbito do transporte rodoviário de longo curso em Portugal.

OCEÂNTIA (FABRICANTE NACIONAL) A Oceântia é uma empresa portuguesa que se dedica ao desenvolvimento e produção de autocarros elétricos. A empresa aposta na tecnologia nacional e em veículos de zero emissões para frotas municipais e escolares. A empresa continua a captar investimento para expandir a produção e promover a mobilidade sustentável no país.

Economia e sustentabilidade

A transição para autocarros elétricos traz benefícios ambientais e económicos. A redução da dependência do petróleo é um dos principais pontos, uma vez que a eletricidade pode ser gerada localmente a partir de fontes renováveis. Isso torna o setor de transportes menos vulnerável a flutuações de preços e crises geopolíticas. Além disso, a manutenção dos autocarros elétricos é mais simples. Sem motor de combustão, não há necessidade de óleo, filtros ou sistemas de escape, reduzindo custos e aumentando a disponibilidade dos veículos. O menor desgaste das peças e a menor quantidade de componentes móveis também tornam as reparações menos frequentes, otimizando a gestão de peças e melhorando a eficiência operacional das empresas de transporte.

por Frederico Gomes in Revista Eurotransporte n.º 146


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