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O parente pobre do mundo automóvel

Se procurar um veículo da gama profissional, comercial, furgão ou similar para apoio da actividade da sua empresa, irá descobrir algo que o poderá deixar perplexo e intrigado.

Ao visitar os stands onde se vendem estas classes de veículos, ou consultando o site das marcas, verá que muitos não possuem como equipamento de base, e pior, muitos nem como extra, os mais vulgares sistemas de apoio à condução ou mesmo os mais básicos sistemas de segurança activa.

Estou a falar de sistemas como a assistência à travagem, o sistema de alerta de colisão ou de sistemas como o limitador de velocidade (não confundir com o regulador de velocidade ou “cruise control”), e outros já disponíveis na maioria dos modelos de viaturas ligeiras de passageiros, como a câmara de marcha atrás, o alerta para saída de faixa, os sensores de estacionamento, os limpa vidros a as luzes automáticas e por aí adiante.

Apenas nos modelos de topo de gama ou nos furgões de transporte de passageiros VIP, três ou quatro marcas oferecem de base ou possuem como extra alguns destes sistemas.  Entendo que nalguns modelos profissionais ou comerciais, cujos chassis são partilhados com viaturas de turismo, como o modelo base já inclui estes sistemas, então o modelo profissional já vem equipado com eles.

Segundo as estatísticas da sinistralidade europeia e corporativa, os furgões e comerciais ligeiros são veículos tendencialmente com menor índice de sinistralidade, apesar de os vermos com frequência a circular rapidamente – por vezes demasiado depressa – por esse país fora. Eles são de facto um dos pilares da nossa civilização ao venderem, distribuírem e darem assistência a toda a indústria, comércio e serviços. Deve existir uma relação direta, dizem, entre a elevada experiência resultante da condução “profissional” e o risco de acidente. De acordo com dados de sinistralidade de empresas gestoras de frotas em Portugal, as viaturas profissionais apresentam uma taxa de sinistralidade cerca de 10% acima das viaturas ligeiras de turismo.

Não se inclui neste estudo acerca da sinistralidade das viaturas profissionais e comerciais os “toques” e batidas em obstáculos, pilares, cais de carga e danos no interior da carroçaria, pois neste segmento da sinistralidade ligeira devem ser campeões.

Compreendo que a necessidade de manter os custos operacionais baixos, aquilo que os gestores de frotas de distribuição chamam de TCO*, os leve a adquirir veículos baratos e, como tal, empobrecidos ao nível de equipamento ou de extras.  Talvez por isso o veículo comercial seja o parente pobre dos sistemas de segurança e de apoio à condução.  

Mas não compreendo, no entanto, porque é que muitas empresas em que a sua actividade assenta na sua frota, e refiro-me a viaturas de distribuição ou de apoio à assistência técnica, não estejam adaptadas às necessidades específicas da atividade e não tenham sistemas de segurança básicos ou de apoio ao condutor (leia-se de redução do risco de acidente).  Por exemplo, vemos dezenas de milhares de viaturas comerciais de caixa fechada que não possuem retrovisores duplos laterais nem sensores de estacionamento ou de deteção de obstáculos, quando uma simples câmara traseira para apoio à marcha atrás se adquire em qualquer site online por meia dezena de euros.  Um sistema antigo que alguns destes veículos incluem, é um sistema sonoro de alerta à manobra de marcha atrás.  Ou seja, paradoxalmente nestes casos, o ónus da redução do risco de uma colisão numa manobra de inversão de marcha recai no peão que vai a passar por trás, em vez de se proporcionar visibilidade ou controlo ao condutor para que possa ser ele a evitar uma colisão, pois é por demais evidente que uma viatura em manobra de marcha atrás apenas com o sinal sonoro ligado, não irá afastar os obstáculos que possam estar escondidos na traseira!  

Duas notas finais.  Será da maior importância que o gestor, ou o responsável da frota da empresa, não poupe nos equipamentos que são imprescindíveis para a segurança da sua actividade, evitando deixar para o condutor toda a responsabilidade pela segurança rodoviária.  Por outro lado, se não fosse a EU e as suas regulamentações a exigir que as viaturas venham equipadas de série com este tipo de sistemas, creio que as marcas ainda teriam à venda viaturas “despidas” dos mais básicos sistemas de segurança ativa e de apoio à condução.  Como diz a velha máxima, “a segurança é responsabilidade de todos”.

 * Total Cost Ownership ; custo total de propriedade de um veículo


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