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AGEPOR traça o rumo: segurança e IA em destaque no XI Congresso

23 outubro 2025

Num cenário de instabilidade geopolítica e revolução tecnológica, o XI Congresso da AGEPOR debate o futuro do setor marítimo-portuário. Segurança, digitalização e inteligência artificial estão no centro de um encontro que reforça a voz dos agentes de navegação e o papel estratégico de Portugal.

Às vésperas do XI Congresso da AGEPOR, que reunirá no Algarve os principais protagonistas do setor marítimo-portuário, António Belmar da Costa, diretor-geral da AGEPOR – Associação dos Agentes de Navegação de Portugal, antecipa em entrevista os temas que vão dominar o debate. Fala sobre os desafios da segurança, o impacto da inteligência artificial, a competitividade dos portos e o papel de Portugal nas novas rotas globais.

Quais são os principais objetivos que a AGEPOR pretende alcançar com o seu XI Congresso?

Os Congressos da AGEPOR procuram olhar sempre objectivamente para as questões que, em cada momento, são mais importantes e actuais para o Sector Marítimo e Portuário.

Neste Congresso entendemos discutir e dar relevo às questões da Segurança nas suas múltiplas valências. Obviamente que, como sempre o fazemos, iremos também abordar a geostratégia mundial e suas implicações para Portugal, bem como discutiremos o momento actual e perspectivas futuras do comércio global. Finalmente e na presença dos principais responsáveis de todos os portos continentais e insulares analisaremos a estratégia 5 + do Governo para o sector portuário e sua tradução nos planos e medidas a tomar em cada porto para se atingirem os objectivos propostos.

De que forma este congresso pretende reforçar a voz dos agentes de navegação perante o Governo, Autoridades Portuárias e organismos internacionais?

Os Agentes de Navegação serão sempre uma voz avisada do Sector porque estão constantemente em contacto com o quotidiano da realidade nacional e internacional. Intrinsecamente ligados aos armadores que representam, mas também às cargas, aos exportadores e importadores, os Agentes de Navegação são um “barómetro”, por excelência do comércio global que tem origem ou passa pelo nosso País. Os Agentes de Navegação são capazes de antecipar em alguns meses as tendências e os resultados que a macroeconomia só “descobre” mais tarde. Assim faz todo sentido que Governo, Autoridades Portuárias e Organismos internacionais e nacionais escutem com periocidade a voz dos Agentes de Navegação.

Como vê Portugal neste momento no panorama marítimo internacional e europeu? Em que áreas somos competitivos e em que áreas estamos em défice?

Portugal tem neste momento, pelos piores motivos, uma posição um pouco favorecida na navegação no contexto mundial. Com efeito a insegurança no Mar Vermelho que obrigou os navios a terem de optar pela rota do Cabo, posicionou os nossos portos como primeiros e últimos a serem tocados na Europa nas rotas de Este para Oeste e vice-versa. Este facto, por si só, amenizou, em muito, os efeitos negativos que se esperavam (sobretudo em Sines) da entrada em vigor do ETS que, como se sabe, criou uma desproporcionalidade no factor competitivo dos portos (principalmente de trasnhipment) europeus. No nosso entender os portos portugueses são bastante competitivos com os seus concorrentes, mas a dimensão do País e o volume das trocas comerciais nacionais não favorecem a atractibilidade dos armadores. O País tem de encontrar factores que atenuem os factores de escala da nossa economia e tem de conseguir atrair carga que, sem de Portugal ou para Portugal seja aqui movimentada. Nesse sentido Portugal tem que reforçar a sua presença e competitividade nas cadeias logísticas globais e para isso será necessária uma estratégia política, fiscal e comercial que aglutine os vários Ministérios e actores do Sector.

Quais os principais desafios que o setor enfrenta e que afetam direta e indiretamente a atividade dos agentes de navegação?

Os principais desafios do Sector, e também dos Agentes de Navegação, estão, a meu ver, muito ligados a tudo o que se relaciona com a Inteligência Artificial. A enorme revolução que nos bate à porta irá alterar definitivamente o método e a organização do trabalho nas nossas empresas. Este não será propriamente um desafio para a minha geração, mas estou convicto que a geração que agora abraça as profissões do Sector irá alicerçar e utilizar no seu quotidiano ferramentas dotadas de inteligência artificial, que multiplicarão em muito a produtividade no trabalho. A utilização maciça da Inteligência Artificial, será a revolução imediatamente decorrente da automatização e digitalização que se espalha já hoje, a nível global, e que irá exponencialmente potenciar a qualidade e quantidade e os métodos de trabalho que iremos desenvolver no futuro próximo. Quem ainda não tiver entendido o que aí vem vai ficar definitivamente fora de cena.

Na opinião da AGEPOR, o setor está preparado para gerir riscos emergentes como ciberataques, segurança física dos portos e das cadeias de abastecimento?

Um dos maiores desafios actuais e que prevejo não se atenue no futuro vai ser a capacidade de lidarmos com os riscos emergentes dos ciberataques que porão em causa, entre outros, a segurança nos portos e a robustez das cadeias de abastecimento. Numa época em que sistemas eleitorais são atacados e corrompidos informaticamente, e que as guerras se fazem e até se decidem por meios electrónicos, o risco de ciberataques aumenta exponencialmente. Pessoalmente não acredito que nenhum sistema actual seja totalmente imune a ciberataques, mas acredito que a prevenção e sobretudo a existência de planos alternativos eficazes pode fazer toda a diferença. Há que trabalhar afincadamente nesse sentido e ter as empresas e os profissionais treinados para continuarem a laborar sem interrupções em qualquer cenário de ataque.

Há medidas ou políticas que considera urgentes para reduzir a burocracia, harmonizar processos e tornar os portos portugueses mais competitivos no contexto europeu?

Há sempre medidas possíveis para reduzir a burocracia. Nos tempos que correm um dos maiores riscos, e que por vezes se observa, é a digitalização da burocracia. Digitalizar a burocracia é um enorme retrocesso na metodologia do trabalho, porque, não só, deixa de permitir alguma informalização que permite ultrapassar a burocracia como a torna rígida e sem regresso. Longe de defender a informalização, entendo que o importante é olhar para todos os processos e simplificá-los. Tal só é possível com o contributo de todos os que neles estão envolvidos. Cada opinião é importante e o objectivo de ve ser comum. Simplificação. Por isso mesmo a AGEPOR tem sido uma grande “embaixadora” dos Fórum de Simplificação pois acredita que se todos trabalharmos para os mesmos fins e com o mesmo objectivo seremos capazes de encontrar soluções que por mais simples e eficazes, tornarão o todo muito mais competitivo.

Qual o impacto que antevê de fatores geopolíticos — crises internacionais, rotas alternativas, diversificação de mercados — no comércio marítimo português?

Os factores geopolíticos trazem sempre agregados riscos e oportunidades. A História já nos ensinou e o povo já aprendeu que “não há males que sempre durem nem bens que nunca acabam”. Eu acrescentaria que por vezes nos males há bens e nos bens há males. Ou seja, seremos sempre capazes de encontrar oportunidades nas situações desfavoráveis e perdê-las nas situações favoráveis. Há que estar atento e sobretudo ter a coragem de perceber que é tempo de avançar antes que outros o façam. Se há uns meses víamos a situação mundial em tons cinzentos, diria até depressivos, hoje percebemos que, num repente, tudo pode mudar. A expectativa da paz no Médio Oriente e quem sabe entre a Rússia e a Ucrânia, com a reconstrução de tudo o que foi destruído na guerra, será sem dúvida o mote para uma expansão sem precedentes neste século, a nível global, alterando os cenários mais negativos que até há pouco nos atormentavam. As oportunidades surgirão e atenuarão seguramente a tendência proteccionista actual dos grandes blocos.

Em matéria de segurança marítima, que medidas Portugal e os stakeholders estão a tomar para responder às ameaças emergentes (crime organizado, narcotráfico, tráfico de pessoas, contrabando)?

O crime organizado, o narcotráfico, o tráfego de pessoas e o contrabando são, sem dúvida, preocupação crescente em todos os que desenvolvem a sua actividade na cadeia logística. A FONASBA (Federation of National Associations of Shipbrokers and Agents) tem vindo a dar muito enfase sobretudo às questões relacionadas com o narcotráfico. Profissionais de Agentes de Navegação no Norte da Europa já receberam ameaças pessoais e familiares do crime organizado se não facilitarem acesso a determinadas facilidades no contexto portuário. Os principais portos belgas e holandeses já foram palco de verdadeiras guerras relacionadas com a droga, o que obrigou a Comissão Europeia a estabelecer a “European Ports Alliance” uma aliança entre institucionais e privados com vista a, em conjunto, encontrar soluções que protejam os portos da infiltração criminal e do tráfico de droga. Os portos e os stakeholders do sul da Europa (Portugal incluído) não têm participado activamente nas reuniões que já aconteceram, mas seria bom que rapidamente todos passássemos a colaborar já que quando a droga encontra obstáculos à circulação num determinado local procura outros locais mais fáceis como caminho. Os portos do sul da Europa serão seguramente uma alternativa. O mesmo se poderia dizer do tráfego de pessoas que encontrando maior dificuldade na travessia clandestina do Mediterrâneo serão tentados a encontrar rotas alternativas como aconteceu recentemente em Portugal.

Que horizonte temporal considera realista para que o sector marítimo português atinja metas como neutralidade carbónica, ou significativas reduções de emissões?

Num momento em que tudo indica que o horizonte temporal das metas da neutralidade carbónica se vai alargar, aproximando-se mais do que é realmente possível fazer sem comprometer a competitividade da Europa, julgo que Portugal apenas deverá seguir os seus parceiros europeus sem quaisquer veleidades de tentar liderar a agenda ambiental. Nesse sentido, e embora compreenda as métricas das metas, julgo que o mais importante é atentar à sustentabilidade das mesmas num contexto em que não existem ainda soluções suficientes que pragmaticamente as permitam alcançar nos prazos pretendidos sem dar cabo da economia.

Se a AGEPOR pudesse propor uma “agenda urgente” para o governo (ou para a UE) para apoiar o sector marítimo-portuário português, quais seriam as três medidas mais importantes?

Acabar com o ETS e perceber que o shipping é global e que este tipo de medidas deveria ser tomado conjuntamente e apenas na esfera da IMO.
Rever a complexidade e a entropia causada ao negócio pelo emaranhado das regras e controlos alfandegários (A alfândega não é um fim em si mesmo, mas trabalha para um fim).
Apoiar o transporte marítimo como estratégico para Portugal.


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