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A razão de ser da TML é servir as pessoas - Faustino Gomes

05 junho 2025

Esteve envolvido em diversos projetos nacionais e internacionais no domínio dos transportes, abrangendo consultoria, investigação e desenvolvimento de projetos. Atualmente, ocupa o cargo de Presidente do Conselho de Administração na TML e considera que o balanço geral do trabalho é positivo.

Após quatro anos de atividade, qual o balanço geral que faz da TML?

Faustino Gomes: O balanço é positivo. Atendendo às múltiplas tarefas que a TML tem na sua missão, foi necessário estabelecer prioridades. As principais apostas foram o funcionamento do sistema de bilhética, o lançar e gerir a Carris Metropolitana (CM) e o assegurar as funções de autoridade de transporte, com enfoque no planeamento da mobilidade. O sistema de bilhética foi objeto de melhorias significativas, está mais adaptado e fácil de usar, e continuamos a simplificar, digitalizar e desmaterializar. A distribuição de receitas tem sido rigorosa e eficiente. A oferta da CM foi melhorada, com um aumento significativo da cobertura espacial e temporal, registando-se indicadores de regularidade e fiabilidade elevados. A procura tem vindo a aumentar de forma significativa, com um acréscimo de 24% nas validações entre os anos de 2023 e 2024, e de 14% no período de janeiro e fevereiro de 2025 relativamente ao período homólogo de 2024. A procura registou igualmente um acréscimo aos sábados e domingos, o que confirma a justeza da aposta feita na melhoria da oferta nesses dias. No planeamento de transportes, é imperativo destacar o Plano Metropolitano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMMUS) e estudos dirigidos à melhoria da qualidade de serviço, com enfoque nas pessoas com deficiência, bem como para melhorar a coordenação e gestão das interfaces.

Quais os maiores desafios que a TML enfrentou desde a sua criação? Como foram superados?

A TML existe para servir as pessoas. Os maiores desafios emergiram com a disrupção introduzida pela CM na oferta de transporte coletivo, que foi, em algumas áreas, considerada pelas pessoas como menos adequada às suas necessidades. Foi necessário enfrentar o problema de frente, ouvir as pessoas e implementar correções, sabendo das limitações e respeitando o contrato. A mobilização de recursos humanos e frotas representou igualmente um desafio significativo para os operadores, mas diretamente acompanhado pela TML. Além disso, a evolução tecnológica, tanto da TML como dos operadores, foi desafiante, evoluindo de uma realidade pouco consistente para uma em que cada validação e autocarro são monitorizados em tempo real.

Como avalia a evolução da mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa (AML) desde que a TML assumiu as suas competências?

A mobilidade na AML registou melhorias e encontra-se numa trajetória de evolução contínua. No entanto, é importante salientar que esta evolução não se deve apenas à TML, mas também ao empenho de todos os operadores e agentes do sistema. A mudança mais significativa foi a transição de uma lógica de operador para uma lógica de sistema, independentemente da empresa que transporta o passageiro. O navegante simplificou o acesso sem penalizar a escolha modal o que ajudou a esta mudança de atitude. A TML tem desempenhado um papel crucial na integração do sistema, contudo, a sua evolução depende da colaboração de todos os intervenientes. A mobilidade na AML é um trabalho contínuo de partilha e cooperação, no qual todos têm um papel.

A TML tem a responsabilidade de coordenar os serviços públicos de transporte de passageiros na AML. Que melhorias foram implementadas para garantir uma oferta mais eficiente e acessível?

A TML não tem competência para alterar a oferta de cada operador. No entanto, tem a faculdade de propor e desenvolver estratégias de integração, de modo a tornar essa oferta mais eficiente e acessível. No que se refere às redes, a TML tem vindo a ajustar a rede da CM para compatibilizar horários e potenciar os modos estruturantes. Relativamente aos sistemas, para além das melhorias e novos sistemas de bilhética, a TML tem-se focado na melhoria da coordenação da informação entre operadores , no sentido de se criar informação integrada do sistema. Foi apresentada uma candidatura com todos os operadores públicos para criar um sistema que centralize essa informação, permitindo, por exemplo, que os passageiros do Transtejo tenham acesso às opções de transporte disponíveis na estação de chegada. Infelizmente essa candidatura não foi ganhadora, mas esse caminho continua a ser trilhado. Igualmente é imperativo integrar os sistemas de apoio à exploração, de modo a permitir ajustes em tempo real, para que, por exemplo, no caso do atraso de um navio da Transtejo, os autocarros da CM ajustem a sua partida fazendo a proteção da viagem dos passageiros em ligação.

Como tem sido o trabalho de articulação com os vários operadores de transporte público? Há desafios específicos nesta coordenação?

Para além do contacto direto entre as equipas de trabalho, a TML dispõe de um fórum de discussão, o Conselho Consultivo para as Tecnologias, onde os Conselhos de Administração dos operadores da AML se reúnem para discutir soluções para desafios específicos. Atualmente, está a ser discutida a criação de um título navegante para 1, 3 e 5 dias para responder a uma necessidade não satisfeita, bem como melhorias na bilhética e na integração dos sistemas. Este processo é contínuo e essencial para consolidar a lógica do sistema, estabelecendo pontes entre os diferentes agentes envolvidos.

Que impacto tiveram as reduções de preço e as iniciativas de gratuitidade do passe navegante na acessibilidade e no custo da mobilidade para a população da AML? Existem planos para expandir a gratuitidade do passe a outras faixas etárias ou grupos sociais?

A implementação do navegante em abril de 2019 constituiu um marco histórico, não só por ter proporcionado benefícios financeiros às pessoas, mas também por ter revolucionado a acessibilidade proporcionada pelo passe. Para além de simplificar a oferta de transporte, tornando o sistema mais acessível e abrangente para toda a AML, o navegante reduziu a necessidade de múltiplos passes, oferecendo um título único que cobre todos os modos de transporte. Em 2019, o crescimento da procura foi superior a 20%, antes da pandemia, referencial que hoje já foi superado.

De 2019 até hoje, o valor dos títulos não foi ajustado, graças ao apoio financeiro dos municípios e do Governo, o que também contribuiu para a recuperação da procura de transportes públicos. As iniciativas de gratuidade, como a aplicada aos jovens até aos 23 anos, visam alterar comportamentos e incentivar o uso sustentável dos transportes públicos. Relativamente à possibilidade de expansão das gratuitidades, discute-se a opção de a estender aos maiores de 65 anos.

É imperativo deixar de analisar os transportes públicos sob o prisma financeiro, e sim, passar a analisá-los numa perspetiva económica, considerando as suas externalidades positivas, tais como a redução de poluentes, melhorias na saúde, diminuição do ruído ou redução de acidentes. A TML pretende em breve iniciar um debate sobre esta matéria, destacando que não se trata apenas de custos, mas sim de qualidade de vida.

Como avalia a adesão dos cidadãos aos modos de transporte público em relação ao transporte individual? Há medidas para incentivar ainda mais esta transição?

A adesão aos transportes públicos tem sido bastante positiva, com o sistema a ultrapassar a procura verificada em 2019, antes da pandemia e após a introdução do passe navegante. No entanto, é necessário um trabalho contínuo para incentivar essa transição. É imperativo continuar a melhorar a qualidade do serviço, simplificar o sistema e facilitar o acesso, bem como disponibilizar uma informação clara sobre a rede e as opções disponíveis. É igualmente fundamental investir em formação para destacar as vantagens do transporte público em relação ao transporte individual. O caminho a percorrer continua a ser longo, apesar dos avanços já alcançados.

Quais são os principais desafios que a TML tem identificado nas gares de transporte público da AML, particularmente na Gare do Oriente, face à elevada procura e à falta de espaço? Que medidas tem vindo a sugerir ou pode promover, ainda que indiretamente, para melhorar as condições, a fluidez do transporte e a experiência dos utilizadores nesses espaços?

Este tema merece uma conversa à parte, mas, em resumo, o desafio não é apenas resolver a falta de espaço e de capacidade física, mas também reconhecer as interfaces como elementos-chave do sistema de transportes, que facilitam o acesso a todos. A TML está a colaborar com os decisores para identificar soluções, contudo, o progresso tem sido mais lento do que o exigido. É imperativo acelerar este trabalho, uma vez que as interfaces são fundamentais para otimizar os serviços de transporte. A TML reafirma a natureza supramunicipal destes equipamentos, que beneficiam toda a AML, e sublinha a necessidade imperativa de identificar uma entidade responsável pela sua gestão, adotando uma abordagem que releve o seu papel estratégico e urgente.

O que tem sido feito para integrar soluções de mobilidade sustentável, como bicicletas e trotinetes, na rede de transportes públicos?

A TML tem vindo a desenvolver esforços contínuos para integrar diversos modos de transporte, incluindo a mobilidade ativa, no sistema navegante. A integração com a Gira já se encontra operacional e a TML está a colaborar com a EMEL para melhorar o serviço. Também testámos bicicletários, como na interface intermodal de Setúbal, que obteve um sucesso considerável, e planeamos expandir essa oferta para outras interfaces, especialmente nas estações fluviais e ferroviárias. No estudo de interfaces que estamos a realizar com o apoio do BEI, destacamos a importância do acesso pedonal e dos modos ativos. Em suma, a integração eficiente de diferentes modos de transporte, cada um desempenhando a sua função, tem o potencial de acrescentar valor à cadeia de viagem, em que os modos ativos são especialmente importantes nas etapas inicial e final.

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Existem planos para melhorar ou expandir o sistema de bilhética digital ou integrar novos meios de pagamento nos transportes públicos?

A TML adota uma abordagem meticulosa, que envolve a experimentação e a implementação de soluções antes da sua divulgação. Por exemplo, a utilização do telemóvel como suporte ao título de transporte, que parece simples, envolve a necessidade de garantir a compatibilidade com diferentes sistemas operacionais e versões de equipamentos, para além de investimentos em validadores. Embora não seja nossa intenção criar expectativas, podemos adiantar que, ainda em 2025, teremos pilotos de diferentes ações que visam facilitar o acesso ao sistema de transportes.

E reforço que a TML desenvolve soluções tecnológicas não apenas para si, mas para todo o ecossistema, permitindo que outros operadores utilizem a mesma plataforma sem custos adicionais e beneficiando do efeito de escala. É essencial manter uma visão integrada do sistema, de modo a permitir que, mesmo com desenvolvimentos paralelos, o passageiro tenha uma experiência unificada.

Quais são os principais projetos e investimentos previstos para os próximos anos?

As apostas da TML para o futuro próximo concentram-se na melhoria contínua do serviço prestado, com ênfase particular na qualidade do serviço do CM e do navegante. A simplificação, digitalização e desmaterialização serão fundamentais, assim como a criação de um sistema de informação integrado e em tempo real para todos os modos de transporte. A interação nas vendas e no atendimento ao passageiro será igualmente melhorada. A mobilidade partilhada e conectada, bem como uma oferta de transporte flexível serão uma realidade em breve. Incluo também aqui o trabalho que teremos de fazer sobre a “mobilidade como um serviço” tendo por base a lógica do navegante, que aliás, internamente, denominamos por NaaS em que o n remete para o navegante. Ademais, estamos também já a preparar a nova geração de contratos beneficiando do conhecimento acumulado da gestão dos contratos atuais.

De que forma a TML está a preparar-se para os desafios da mobilidade sustentável e para a redução das emissões de carbono no setor dos transportes?

Os prestadores de serviço da TML têm vindo a investir em frotas mais sustentáveis, com o apoio do Governo na renovação para tecnologias ambientalmente mais sustentáveis. Ademais, estamos a olhar para a oferta e percursos mais eficientes e a planear modelos de negócio que atendam melhor às necessidades das pessoas, antecipando tendências para uma oferta de transporte mais eficiente.

Como vê o futuro da mobilidade na AML e o papel da TML na sua evolução?

Chegámos a um ponto crucial em que é necessário abandonar a lógica de operador e adotar uma lógica de sistema, com todos os intervenientes a trabalharem em conjunto para o mesmo objetivo: a melhoria do serviço. Acredito que, com esta abordagem, a mobilidade na AML melhorará progressivamente, de forma mais inclusiva, sustentável e verde. A TML está definitivamente nesse caminho, de partilha, de gestão, de trabalho conjunto com todos. In revista Eurotransporte n.º 146


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