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Sou determinada e exigente!

05 maio 2021

É a primeira mulher a ser nomeada em Portugal directora-geral de uma marca de camiões. Sandra Resende, licenciada em Gestão de Empresas, conhece a IVECO e o meio onde se movimenta como “as suas mãos” como sói dizer-se, o que levou a “casa mãe”, a nomeá-la para o respectivo cargo para Portugal.

Mas como reage às situações que se lhe deparam? Como gere a Empresa? A quem reporta? Quais as decisões mais difíceis? Para obter respostas a estas e outras questões, fomos conversar com Sandra Resende que recebeu a Eurotransporte no seu habitat natural, a IVECO Portugal em Castanheira do Ribatejo.

Num mundo tradicionalmente de homens a IVECO resolveu ser, uma vez mais, pioneira e nomeou uma mulher para directora-geral da marca para Portugal. Como foram as reacções?

Honestamente, estou muito habituada a ser uma mulher num mundo de homens, mas não noto nenhum handicap. Talvez em alguns clientes isso possa causar alguma estranheza, mas fui bem acolhida. Não tenho tido qualquer sensação de limitação. Num cargo de direcção, mais do que ser mulher ou homem, o importante é ter soft-skills e uma forte capacidade de gestão de recursos humanos. O segredo das empresas é ter as pessoas certas nos lugares certos e motivar equipas.

E como tem sido a sua liderança. Reparamos que conhece todos os colaborados cumprimentando-os inclusive pelo nome?

Sou uma pessoa determinada por natureza e uma mulher bastante exigente, resiliente, extrovertida e que tenta ser justa. É importante para quem tem a responsabilidade de gerir, conhecer os seus colaboradores, respeitá-los e proporcionar-lhes as melhores condições para executarem as suas funções. Ter uma boa equipa motivada é importante para se conseguir alcançar os objectivos. Quanto a conhecer a maior parte senão a totalidade dos meus colegas, isso deve-se ao facto de já ter vários anos de serviço na IVECO. Deixe-me dizer-lhe que dar os bons dias ao ‘Manuel’, ‘João’, ‘Clara’ ou ‘Fernanda’, é diferente de dizer apenas ‘bom dia’. Todos eles sabem quem eu sou e por isso mesmo tenho a obrigação de saber quem eles são pois fazemos todos parte da mesma equipa.

Em Abril de 2019 assumiu a direcção da IVECO Portugal, deixando para trás a liderança do departamento financeiro onde esteve vários anos. Como é que encarou a mudança?

Penso que foi uma evolução natural, porque o departamento financeiro na IVECO tem uma interacção muito grande com o negócio e toda a aprovação passa pela parte financeira. Temos uma forte componente de controlo de gestão que, mais do que fazer reportings, tem uma participação muito activa na finalização do negócio. Sinto que tenho de ter uma ligação mais próxima com os clientes, mas não houve um corte abrupto.

A quem reporta as suas tomadas de decisão enquanto Directora da IVECO Portugal?

Directamente a Ruggero Mughini, que é o director-geral da marca para a Península Ibérica. Conhecemo-nos muito bem, trabalho com ele praticamente desde que entrei para a IVECO, muito embora a minha posição fosse outra mais ligada à área financeira. Mas estivemos sempre em sintonia e sabemos o caminho que pretendemos seguir para levar a IVECO a alcançar os objectivos.

O conhecimento que já tinha da IVECO, embora noutro departamento, ajudou nesta sua nova função?

Foi bastante benéfico. Tem de haver uma visão de gestão da empresa e, quando se analisa um negócio, temos também de ter uma noção dos impactos que este tem em todas as áreas, não só na operacional, mas também ao nível de tesouraria, da cobrança e dos impostos. Ajuda a montar os negócios de uma forma mais rentável para a empresa e a perceber quais são as ferramentas que conseguiremos utilizar, como por exemplo, apresentar as melhores soluções de financiamento aos nossos clientes.

Equipa estável

Quais foram os principais desafios que teve de enfrentar?

O principal desafio foi começar a estruturar a empresa de acordo com o que seria o meu planeamento estratégico, portanto, definir a equipa. A IVECO precisava de alguma estabilidade a esse nível e felizmente que o conseguimos. Temos elementos muito valiosos dentro da empresa, pessoas com muito tempo de casa, conhecimento e dedicação. Depois tive o desafio do relançamento dos novos produtos, quer da Daily quer da gama de pesados, e de nos adaptarmos à nova estratégia do Grupo e à nova forma de estar no mercado ao nível da venda. Estamos a ir um pouco em contraciclo com o que está a ser feito no mercado, pelo menos a nível nacional.

 Os objectivos, que certamente traçou aquando da sua nomeação, ou pelo menos aqueles que a “casa mãe” tinha em mente quando lhe ofereceu o cargo, foram por si alcançados?

Foram alcançados sobretudo pela equipa. Para além do lançamento dos novos produtos, de nos prepararmos para isso e fazermos o ‘phase out’ do produto actual, a primeira estratégia passou por adquirirmos uma posição muito mais vincada no segmento dos rígidos e da construção e focarmo-nos no gás, onde temos um produto ímpar e de rentabilidade bastante elevada. Além disso temos o novo produto, os seminovos, que são os ‘buy-backs’ das nossas vendas de veículos novos e que é um produto com qualidade, com serviços associados para garantias, contratos e manutenção.

E quais as prioridades para 2021?

A prioridade para o próximo ano é melhorar a nossa rede de forma a conseguirmos vender este produto seminovo e termos os veículos recondicionados em perfeitas condições. Acho que o mercado português cada vez mais está a encarar os seminovos como um produto efectivo, alternativo e de qualidade. Aliás, temos clientes de grandes frotas que, se falássemos com eles há dois ou três anos, nunca lhes passaria pela cabeça comprar veículos seminovos e, neste momento, estão a pedir cotações e a adquiri-los. Portanto, é uma realidade que hoje se está a impor.

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Nova gama ajudou

A nova gama de veículos pesados WAY, veio ajudar a alcançar os objectivos traçados?

É um facto que não poderemos omitir. A gama WAY é um produto completamente inovador em termos de estética e de qualidade face aos produtos que a IVECO tinha. Assenta muito numa estratégia de proximidade ao cliente e ao motorista. Oferece ainda uma série de serviços associados ao nível de conectividade, de gestão de frota, de aconselhamento de reduções de consumo de combustível, o que se chama de manutenção preventiva, que tornam possível à IVECO, para além de vender o camião, comercializar uma série de serviços associados, como consultoria aos nossos clientes de forma a permitir-lhes reduzir de forma mais eficiente os custos e gerir melhor a frota.

As encomendas foram feitas no seu tempo de lançamento, os veículos entregues e penso que estamos a ter uma boa aceitação, nomeadamente pelos serviços que lhe estão associados. Temos alguns veículos de demonstração para os nossos clientes poderem experimentar em condições normais do seu dia-a-dia e iremos também fazer um lançamento, que estava previsto para Novembro, mas infelizmente o momento de pandemia que estamos a atravessar não permitiu efectuá-lo como pretendíamos, mas temos vindo a proporcionar experiências aos nossos clientes bastante importantes para nós.

A nova Daily é outra das grandes apostas. Que importância tem no fortalecimento da IVECO?

Penso que é muito importante. É uma linha contínua, ou seja, a IVECO, ao nível da Daily, tem sido sempre o Grupo que marca de certa forma a inovação e que faz o caminho que depois os restantes fabricantes tentam seguir. É um produto de uma qualidade ímpar e onde também se está a tentar, através dos serviços associados, permitir uma maior conectividade, conforto e segurança ao nível da condução.

Quer na nova Daily, quer na nova gama de pesados, está a ser dada uma atenção especial ao motorista. Ou seja, hoje não só é importante o gestor de frota, mas preocupamo-nos com os motoristas porque são eles os utilizadores dos veículos e, como tal, sabem melhor do que ninguém daquilo que necessitam. Sabemos que muitas vezes o motorista pode marcar a diferença. A sua produtividade muitas vezes está associada à qualidade da sua condução. Penso que as alterações que foram feitas ao nível da nova Daily estão a marcar essa diferença. O produto está muito mais fiável e fácil de conduzir, tem uma série de assistência em fila, aos ventos laterais, enfim, parece um veículo ligeiro de passageiros.

Portugal, à semelhança daquilo que se tem vindo a registar pelo resto da Europa, está a abraçar significativamente as energias alternativas. Essas energias são também uma aposta para a IVECO?

Sim. Diria mesmo que são uma verdadeira aposta. O objectivo de apostar nas energias alternativas, como o gás natural, por exemplo, é porque acreditamos ser aí que está o futuro ao nível dos

transportes. A electricidade no longo curso ainda não é uma alternativa real, por isso acreditamos que o gás o consegue ser. Para além de ser um veículo ecológico, permite reduções de CO2 associados a consumos que são muito mais baixos. Portanto, no transporte de longo curso, nota- se uma diferença enorme. A IVECO foi pioneira no gás e apostou num produto que permite uma autonomia de 1600 km. Ou seja, tem capacidade para fazer um longo curso e ir ao encontro das exigências que estão a ser implementadas.

A aceitação tem sido progressiva e temos alguns transportadores com frotas que já operam com os nossos veículos a gás, porque efectivamente o veículo tem qualidade, autonomia e está associado ao bom desempenho e, sobretudo, é ecológico.

Regresso aos chassis

Depois de alguns anos sem disponibilizar bases de chassis para carroçadores, a marca decidiuregressar ao mercado com um produto próprio, o Evadys. Porquê?

Achamos ser uma boa solução, senão mesmo a solução. Em Portugal temos um sector dos autocarros que é muito ´sui generis´, que está muito assente nos carroçadores. Efectivamente a IVECO não disponibiliza um chassis que o carroçador depois possa preparar. Temos actualmente, uma equipa forte nos autocarros na IVECO Portugal, uma equipa dedicada e achámos que era altura mais apropriada para começarmos a lançar um produto completamente nosso, com garantia da marca e contrato de manutenção. O mercado mostrou-se receptivo, trabalhamos todos de forma assertiva e a prova está aí com os bons resultados alcançados neste particular.

No seu entender e como directora-geral da IVECO Portugal, na hora da aquisição de um veículo de mercadorias o que é que pesa mais! O produto em si ou tudo o que lhe está associado?

Penso que hoje em dia o mais importante é tudo o que lhe está associado. Obviamente que o produto também é importante. Mas para o cliente é muito importante não só adquirir um bom produto, como aquele que a IVECO lhe oferece, mas acima de tudo ter um acompanhamento, ao nível do serviço pós-venda. Quando um camião IVECO apresenta problemas, temos de ter uma resposta célere, assim como aconselhamento profissional ao nível de gestão de frota, de consumo e manutenção preventiva. Sem estarmos atentos a tudo isto as coisas tornam-se mais difíceis.

O cliente tem de ter confiança não só no produto que adquiriu, mas sobretudo naquilo que a marca lhe pode oferecer após a compra.

Como decorreu o ano de 2020 para a IVECO Portugal?

Com os constrangimentos sobejamente conhecidos por todos em termos de saúde pública, 2020 correu bem para a IVECO. 2019 foi o ano de muitos desafios, felizmente ultrapassados com êxito e deixaram-nos perspectivas para 2020 excelentes. Contudo, infelizmente aconteceu a pandemia de Covid-19 que veio complicar todas as estratégias que tínhamos delineado. Mesmo assim, a IVECO nunca parou. Continuamos a efectuar e implementar as alterações necessárias e possíveis para dar continuidade à mudança de estratégia ao nível da marca. A título de exemplo, posso dizer-lhe que fomos nós que iniciamos em grande parte a venda de veículos com ´buy-back´ de forma mais massificada, fomos os pioneiros no gás e estamos também a sê-lo na “viragem” ao nível da venda.Ou seja, estamos a tentar fazer uma venda mais sustentável. Nesse aspecto, o ano 2020, foi um desafio, mas agora já estamos a ter outra receptividade e estamos a sentir que as outras marcas estão a acompanhar-nos nas ideias.

In Eurotransporte n.º 119


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