Atualidade
06 outubro 2025

Barómetro Transportes

O estudo, já com sete edições, tem como objetivo avaliar o sentimento do setor junto dos seus intervenientes ativos.

Os participantes do estudo em 2025, e à semelhança de anos anteriores são todos aqueles que que têm um interesse direto na área de transportes de mercadorias e que constam da base de dados da Revista Eurotransporte e da ANTRAM.

Foram enviados e-mails com o inquérito para as bases de dados da ANTRAM e da Eurotransporte. De um universo de 15.000 participantes obtiveram-se 165 respostas válidas. Os dados foram recolhidos entre julho e setembro 2025.

1. O Questionário

O questionário avalia o sentimento dos operadores em duas vertentes. Uma primeira vertente ao nível do sentimento dos participantes relativamente ao setor de transportes de mercadorias. O sentimento é avaliado com recurso a quatro questões:

> Perspetiva do setor de transportes de mercadorias rodoviário para o próximo ano.

Perguntou-se aos participantes do estudo se têm uma “muito boa”, “boa”, “má” ou “muito má” perspetiva relativamente ao setor para o próximo ano.

> Perspetiva do setor de transportes de mercadorias rodoviário para os próximos 3 anos.

Perguntou-se aos participantes do estudo se têm uma “muito boa”, “boa”, “má” ou “muito má” perspetiva relativamente ao setor para o próximo ano.

> Perspetivas de investimento no próximo ano.

Perguntou-se, apenas aos investidores ativos do setor dos transportes de mercadorias rodoviário, quais os seus planos de investimento para o próximo ano: aumento, manutenção ou redução de investimento. Questionou-se também a tipologia de investimento. Analisou-se o planeamento das organizações ao nível do investimento em novas tecnologias e em novas práticas sustentáveis.

> Perspetiva de Longo Prazo.

Perguntou-se os participantes se recomendam o transporte rodoviário de mercadorias enquanto atividade profissional atrativa e de futuro. Esta questão foi baseada na metodologia Net Promoter Score (NPS). O inquirido dispõe de uma escala de 0 a 10. Se responder com 10 ou 9 é classificado como promotor, 8 ou 7 é neutro/passivo. De 6 até zero é classificado como detrator. Alcança-se o valor de NPS subtraindo os detratores aos promotores.

Uma segunda vertente do estudo visa identificar constrangimentos na operação na área de negócio dos transportes rodoviário de mercadorias. De vários possíveis cenários foram escolhidos onze fatores considerados relevantes para a área de negócio dos transportes rodoviário de mercadorias. Os fatores são diferentes entre si, mas todos poderão ter um impacto negativo no negócio das empresas. Os participantes avaliaram os seguintes fatores: aumento dos impostos, incerteza fiscal, aumento dos preços dos combustíveis, aumento do preço de outras matérias-primas, nova legislação mais restritiva, falta de mão-de-obra, evolução da economia, aumento da concorrência, o ambiente laboral, instabilidade no cenário internacional e instabilidade na política nacional.

A avaliação de cada um dos fatores foi feita em função do seu impacto na qualidade do sono do participante. O participante podia escolher entre cinco opções em função do acontecimento: “Perco totalmente o sono”, “Durmo mal”, “Durmo OK”, “Durmo muito bem”, “Durmo que nem um anjo”. O fator seria relevante, e preocupante, se o participante afirmasse que estava a perder totalmente o seu sono ou a dormir mal ao pensar nesse mesmo fator. O fator não seria preocupante se o participante escolhesse as opções “Durmo ok”, “durmo muito bem” ou “durmo que nem um anjo”. Para facilidade de análise a escala foi redesenhada. Assim, comparam-se os valores somados do “Insónia” e “Durmo mal” com os valores somados do “Durmo OK”, “Durmo bem”, “Durmo que nem um anjo”.

2. Características da amostra

A maior parte da amostra, 67%, é constituída por Proprietários Gerente e Diretores de empresas de transporte representam. Os funcionários de empresas de transporte rodoviários representam 17%. O resto da amostra é constituída por consultores, 4%, fabricantes, importadores ou concessionários com 3%. Os restantes 9% são compostos por professores/investigadores, funcionários do estado e ouras profissões. A amostra é composta por residentes de todos os distritos de Portugal continental. Porém, os residentes de Lisboa, Porto e Leiria representam mais de 40% da amostra.

Os homens estão em maioria no estudo e representam 77% da amostra, as mulheres representam 23%. Relativamente a idades 59% da amostra tem entre 35 – 54 anos.

Relativamente ao nível das habilitações literárias, 49% da amostra não tem formação ao nível do ensino superior em comparação com 51% do restante da amostra que tem habilitações literárias ao nível do ensino superior. É de assinalar que 16% do total da amostra tem mestrado ou doutoramento.

Relativamente à dimensão das empresas, 32% trabalham os pequenas empresas, 31% em microempresas, 20% trabalham em grandes empresas e 17% em médias empresas.

3. Resultados

> Perspetiva para setor dos transportes para o próximo ano.

A maioria dos participantes tem uma perspetiva positiva para o setor de transporte para o próximo ano. Mais de metade da amostra, 54% tem uma perspetiva boa e 3% têm uma perspetiva muito boa. Assim, 57% dos participantes têm uma perspetiva positiva para o próximo ano. Inversamente, 33% da amostra têm uma perspetiva má e 9% têm uma perspetiva muito má. Pode-se concluir que a maior parte do mercado tem uma perspetiva positiva para o próximo ano.

Comparativamente a 2024, pode-se verificar que houve uma melhoria nas expetativas a curto prazo. Em 2025 existem mais participantes com uma perspetiva positiva a curto prazo comparativamente a 2024 e a todos os anos anteriores. Os resultados em 2025 são os melhores desde 2017, ano em que se iniciou o barómetro.

Perspetiva a 3 anos

Quando os participantes foram questionados relativamente a um horizonte temporal a 3 anos, a maior parte da amostra, 56%, tem uma perspetiva positiva, da qual 54% tem uma perspetiva boa e 2% muito boa. Assim, menos de metade da amostra, 44%, tem uma perspetiva negativa, dos quais 34% têm uma perspetiva má e 10% muito má.

Comparando as perspetivas de curto e médio prazo pode-se concluir que os participantes estão igualmente positivos quer a curto quer a médio prazo.

Em comparação com anos anteriores, há um aumento na confiança em 2025. Mais de metade da amostra tem uma perspetiva positiva a médio prazo. O valor em 2025 é também o mais alto desde que começaram os registos.

Níveis de Investimento

Relativamente ao plano de investimento, 23% dos participantes afirmam que as suas empresas irão diminuir os seus investimentos durante o ano 2025. Mais de metade, 57%, afirma que irá manter os seus investimentos e 19% afirmam que irão aumentar os seus níveis de investimento. Comparativamente às intenções de investimento de 2024 pode-se afirmar que há uma maior propensão ao investimento. Em 2024, 37% dos participantes afirmavam que iriam diminuir os seus investimentos e 11% afirmavam que iriam aumentar. Essa propensão ao aumento do investimento vem em linha com uma perspetiva mais positiva a curto e médio prazo.

É também de se referir que as grandes empresas são aquelas que estarão mais propensas a aumentar os seus investimentos. De facto, 35% dos participantes que trabalham em grandes empresas afirmam que as suas organizações irão aumentar os seus investimentos, o percentual cai para 25% relativamente a microempresas e 20% relativamente a pequenas e médias empresas. É também de se referir que é junto das pequenas empresas onde poderá assistir a uma maior diminuição do investimento. De facto, 38% dos participantes que trabalham em pequenas empresas afirmam que as suas organizações irão diminuir os seus investimentos. Este valor é mais favorável para as microempresas, onde 29% afirmam que irão diminuir os investimentos e 21% relativamente às médias empresas. Apenas 13% dos que trabalham em grandes empresas afirmam que as suas organizações irão diminuir os seus investimentos. Assim, é de esperar que o investimento este ano venha especialmente das grandes empresas.

Relativamente ao tipo de investimento é aparente o esforço a ser feito para desenvolver práticas sustentáveis. A maior parte dos participantes, 55%, afirmam que é provável ou extremamente provável que a suas empresas invistam em boas práticas sustentáveis. Apenas 14% dos participantes afirmam que as suas empresas não irão investir em boas práticas sustentáveis.

Contudo, comparativamente a 2024, existe uma redução da probabilidade de investimento em práticas sustentáveis. Em 2024, 61% dos participantes afirmavam que as suas organizações iriam aumentar os investimentos em práticas sustentáveis. Porém, não existe um aumento relevante relativamente àqueles que afirmam que as suas empresas irão diminuir os investimentos em práticas sustentáveis. A maior mudança de um ano para o outro é ao nível neutral, as empresas irão manter as suas políticas.

Verificando a evolução da probabilidade de investimentos por dimensão de empresa conclui-se que são nas pequenas e médias empresa onde há um decréscimo na quantidade de empresas com vontade de investir em práticas sustentáveis.

O investimento em novas tecnologias é também relevante para a maior parte dos participantes do estudo. Mais de metade da amostra, 56% afirma que é provável ou muito provável investir em novas tecnologias e apenas 19% da amostra afirma que não irá investir em novas tecnologias.

Comparativamente a 2024 é de salientar que houve um aumento da probabilidade de investimento em novas tecnologias. Em 2025 mais de metade da amostra, 57%, afirmam que irão aumentar os seus investimentos, comparativamente a 45% em 2024. Existem também menos a afirmar que as suas empresas não irão investir em novas tecnologias.

Assim, a evolução positiva ao nível do investimento global em 2025 irá recair mais em novas tecnologias e menos em políticas ao nível da sustentabilidade.

É de salientar que a propensão de investimento em cada uma das tipologias está também dependente da dimensão das empresas. De facto, 80% dos participantes que trabalham em grandes empresas afirmam que é parcialmente provável ou extremamente provável que as suas organizações invistam em práticas sustentáveis. Essa propensão para investir em práticas sustentáveis é de apenas 34% para as microempresas. Relativamente ao investimento em novas tecnologias a dimensão das empresas tem também um impacto nas decisões. 84% dos participantes de empresas de grande dimensão afirmam que as suas organizações irão investir em novas tecnologias. Em contraste, apenas 37% dos participantes de microempresas afirmam que as suas organizações irão investir em novas tecnologias.

Há claramente um contraste entre a atuação de grandes empresas e empresas de menor dimensão. São as grandes empresas que estão a pressionar pelo investimento no setor.

Observando a evolução do investimento das empresas comparativamente a 2024, verifica-se que é junto das pequenas e médias empresas que há uma maior queda na propensão ao investimento em práticas sustentáveis.

Relativamente ao investimento em Novas Tecnologias, pode-se concluir que existe uma evolução positiva em todas as organizações, independentemente da dimensão. Sendo que o maior aumento na propensão para investimento recai sobre as micro e pequenas empresas.

NPS

O Net Promoter Score (NPS), que avalia a recomendação da atividade na área de transporte rodoviário enquanto profissão, tem um valor negativo e pior do que o do ano passado. De acordo com os resultados, 83% dos inquiridos são detratores, ou seja, apresentam reservas na hora de recomendar um futuro profissional ligado ao setor de transporte rodoviário. Apenas 4% recomendariam uma profissão na área do transporte rodoviário como algo desejável e atraente. Assim, o valor do NPS é de -79%. Comparativamente a 2023 e 2024, os valores do NPS pioraram ligeiramente. É interessante verificar a tendência negativa do NPS ao longo do tempo.

Quando se avalia o NPS em função da dimensão de empresa, verifica-se que existem perspetivas diferentes. Os participantes de empresas mais pequenas estão mais negativos do que os das empresas maiores. O NPS dos participantes das Microempresas é de -87% enquanto o das grandes empresas é de -67%.

Uma vez mais é possível verificar que existe uma maior pressão junto de empresas mais pequenas comparativamente a empresas de maior dimensão. Porém, os participantes de empresas de maior dimensão, apesar de serem os mais otimistas comparativamente a participantes de empresas de menor dimensão, são também os que tiveram uma evolução mais negativa.

Fatores de constrangimentos

Tal como foi referido, foram medidos onze fatores de constrangimentos na operação na área de negócio dos transportes rodoviário de mercadorias. O fator que mais provoca preocupação nos participantes do estudo é o fator mão-de-obra. Do total da amostra, 75%, afirma que dorme mal ou tem insónias devido à falta de mão-de-obra. O segundo fator que mais preocupa os participantes do estudo é o potencial aumento do preço dos combustíveis. Este potencial aumento afeta o sono a 72% da amostra. Um terceiro grupo de fatores que preocupa a maior parte dos participantes do estudo são: o potencial de nova legislação mais restritiva (69%), incerteza fiscal (69%), aumento dos impostos (68%) e instabilidade no cenário internacional (67%).

O aumento do custo de outras matérias-primas, a instabilidade na política nacional e a evolução da economia também retiram o sono a mais de metade da amostra, 63%, 60% e 54% respetivamente. O ambiente laboral e o aumento da concorrência são os fatores que menos preocupam os profissionais do setor do transporte rodoviário, 39% e 34% respetivamente.

Quando se comparam os resultados com o ano de 2024, verifica-se que há um desagravamento da maioria dos fatores. Em 2024, o fator que mais preocupava os participantes era o aumento dos preços dos combustíveis e o aumento do custo das matérias-primas. Os aumentos dos impostos e a incerteza fiscal eram também fatores que afligiam grande parte da amostra. Pode-se assim concluir que os fatores mais preocupantes em 2024 eram os fatores ligados aos custos de produção. Em 2025 essas preocupações ainda estão presentes, porém não com o mesmo impacto de 2024.

No segundo grupo de fatores de preocupação estão fatores ligados ao contexto da empresa e no conjunto destes fatores pode-se verificar que há decrescimento das preocupações. A única exceção é a falta de mão de obra que se agravou em 2025.

Pode-se concluir que há menos participantes preocupados com os diferentes fatores; essa diminuição de preocupação reflete-se num maior número de participantes com perspetivas positivas a curto e médio prazo.

Ao analisar os factores em função da dimensão das empresas, verifica-se um impacto distinto. Para simplificação da análise dos dados a escala da variável dimensão da empresa foi redesenhada. Assim, juntaram-se as micro e pequenas empresas numa escala e as médias e grandes empresas numa outra escala. A variável dimensão da empresa passa a ter duas escalas: microempresa e pequena empresa, e médias e grandes empresas.

Quando se observam os resultados em função da dimensão da empresa, verifica-se que os fatores afetam as empresas de forma distinta. Assim, a maior parte dos fatores têm um impacto mais negativo sobre os participantes das microempresas e pequenas empresas do que os das médias e grandes empresas. A única exceção é fator ligado ao ambiente laboral. O fator ambiente laboral afeta mais negativamente os participantes de médias e grandes empresas comparativamente a micro e pequenas empresas. Pode-se concluir que os participantes de médias e grandes empresas têm mais recursos e instrumentos para fazerem face a um mercado volátil.

Contudo, apesar dos fatores terem impactos diferentes nas empresas, é interessante verificar que a dimensão das empresas não tem um impacto relativamente às perspetivas de curto e médio prazo.

Apesar da melhoria das perspetivas a curto e médio prazo e da redução das preocupações com diferentes fatores, o NPS caiu. Ou seja, embora os profissionais estejam mais otimistas quanto ao setor, mantêm pessimismo relativamente ao futuro da profissão.

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