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"Temos de adaptar as cadeias de abastecimento às novas realidades"

13 dezembro 2021

“Da Resiliência à Recuperação” foi o tema principal do Congresso da Associação Portuguesa de Logística (APLOG), do qual a EUROTRANSPORTE foi Media Partner.

Antes da 23.ª edição do evento, estivemos à conversa com Raúl Magalhães, presidente da Associação, que nos referiu quais os novos desafios que o sector enfrenta, assim como as oportunidades que surgem através das novas tecnologias que as empresas do sector têm agora à sua disposição.

Raúl Magalhães é o presidente da APLOG. Em entrevista à EUROTRANSPORTE, o líder da associação de logística dissertou sobre a competitividade do sector em Portugal e abordou o desenvolvimento tecnológico das empresas nacionais, que tem a 23º edição do seu Congresso já aí à porta.

EUROTRANSPORTE - O 23º Congresso da Logística, organizado pela APLOG, terá como tema principal “Da resiliência à recuperação”. Quais serão os principais assuntos a debater neste evento?
RAÚL MAGALHÃES - Começaremos por dar visibilidade através de testemunhos de empresas do papel que a Logística desempenhou ao longo destes dois últimos anos; do Retalho à Indústria, da Saúde à Farmacêutica, das Tecnologias ao E-commerce; daremos destaque aos temas incontornáveis da recuperação da economia, evidenciando como as empresas e a logística estão a preparar a digitalização e automação. Falaremos das infraestruturas com a IP, nomeadamente portuárias e ferroviárias, com os Portos de Leixões e Sines da tecnologia com a Zetes, Siemens e da sustentabilidade com a Sociedade Ponto Verde, com a Chep e Luís Simões. Da Sonae MC, à JM, do Leroy Merlin ao Hospital Lusíadas, Schenker, GXO, SSi Schaefer, Dott, Wook e Correios, são algumas das muitas empresas que estarão connosco como oradores. Fecharemos com o habitual painel de visão do futuro, em que teremos quatro CEO’s de diferentes áreas de actividade – Pfizer, NOS, Grupo Pestana e APICCAPS. Teremos também uma reflexão do Dr. Luís Marques Mendes e a presença sempre disponível do Ministro da Economia (a confirmar).

Que impactos a pandemia trouxe ao sector logístico nacional? E como classifica a resposta dada pelos operadores logísticos à crise e recessão económica que se instalaram a nível mundial?
A pandemia colocou pressão em todos os sectores de actividade, mas destacaria três por diferentes razões, embora complementares – Saúde, Comunicações e Logística. São três áreas que em períodos normais passam quase despercebidas, mas que num contexto pandémico tiveram, pela positiva, um destaque e um papel fundamentais. A crise a nível mundial a que estamos a assistir está muito relacionada com as ondas de choque da pandemia e com as fragilidades que as cadeias de abastecimento longas e complexas revelaram. A resposta e recuperação serão lentas e passarão pela reformulação de muitos modelos de cadeias de valor e respectivas supply chains.

Na óptica da APLOG, quais são os grandes desafios que o sector logístico irá enfrentar no período pós-Covid-19 e no longo-prazo?
Os desafios passam, essencialmente, por adaptar as cadeias de abastecimento às novas realidades, menos globais e mais regionais/locais, assumir a sustentabilidade como orientação central nas operações e nos transportes e reforçar os processos digitais como forma de simplificar os processos de trabalho e interface com fornecedores e clientes. Investir cada vez mais na IA assim como na requalificação dos seus quadros. Os temas da descarbonização estão também presentes, assim como o desafio que o comércio electrónico coloca hoje às cidades em particular.

A pandemia veio acelerar a transformação digital em muitos sectores - principalmente no logístico - obrigando muitos operadores a reinventarem-se de modo a poderem dar uma resposta mais flexível e competitiva dentro da cadeia de abastecimento. Na sua opinião, quais serão as consequências futuras deste “aceleramento digital”?
Já eram visíveis e a pandemia veio dar ainda maior visibilidade e desenvolvimento. Nos transportes – desde a janela única logística, passando pela simplificação documental e sua desmaterialização. Processos de planeamento, execução de tarefas e gestão das operações logísticas, o acelerar da automação e dos modelos inteligentes, são alguns exemplos. Muitos processos migrarão para soluções de IA e machine learning como única forma de acrescentarem valor aos negócios.

O que espera a APLOG do Plano de Recuperação e Resiliência anunciado pelo Governo? Quais as expectativas?
A par de algum investimento público ao nível das infraestruturas e em alguns «missing links» já identificados, um forte apoio às empresas por forma a garantir condições para a sua modernização, fortalecimento das competências e capacitação que possam contribuir para um incremento das exportações, fazendo-o com a garantia de adopção de práticas sustentáveis a todos os níveis.

Como está a decorrer a integração dos operadores logísticos em plataformas digitais públicas como a JUL – Janela Única Logística?
As notícias que temos são muito positivas e a JUL é um motivo de orgulho pela capacidade inovadora e diferenciadora para todos os intervenientes na cadeia logística, mas com especial destaque nos nossos portos e operações logísticas do seu ecossistema.

Na sua opinião, o que falta fazer ao nível das infraestruturas logísticas e de transporte para melhorar a competitividade das cadeias logísticas?
O que já mencionei, alguns «missing links», que embora pequenos perturbam e penalizam a eficiência logística. Forte investimento ao nível das plataformas multimodais antecipando o novo e forte papel que a ferrovia vai desempenhar. A preparação para os novos equipamentos de transporte; carregamentos e parqueamento, quer nas estradas, quer especialmente nas cidades.

Ao nível da logística urbana e das cidades, quais devem ser as prioridades das autoridades locais e regionais?
Definição de planos logísticos urbanos sustentáveis, dos quais já temos bons exemplos (CM do Porto é um deles) que garantam a definição de regras coerentes, o conhecimento das restrições e/ou oportunidades futuras quer ao nível de circulação de veículos, respetivas tipologias, existência das micro plataformas de distribuição urbana, modelo de gestão associado, etc. Os pontos de carregamento, eléctrico ou outro, assim como espaços e regras definidos para o processo de carga e descarga, são fundamentais. A APLOG está particularmente atenta à logística urbana e os seus desafios e vai efectuar a 2ª edição da Conferência “A Logística e as Cidades” a 2 de Dezembro em Braga, onde estas e outras temáticas serão abordadas.

APLOG_ENGº RAUL MAGALHÃES_2

Esta direcção da APLOG foi reeleita em Março deste ano. Quais são os planos e projectos da associação para o triénio 2021/2023?
O contexto da reeleição foi e ainda continua a ser extremamente difícil. Os eventos e a formação que a APLOG realizava eram fortemente presenciais. Tudo faremos para rapidamente retomarmos essas iniciativas presenciais, não desvalorizando a componente online, em particular na formação.
Eventos como “2 Dias 2 Portos” – em Setembro em Setúbal e Sines e em Janeiro previsto para Leixões e Viana; o congresso anual; a conferência “As Cidades e a Logística”; programas de formação como o “5 Dias 5 Empresas”; seminários sobre a Gestão de Risco e sobre Imobiliário Logístico e o Seminário Têxtil, são algumas das iniciativas para o segundo semestre de 2021 e primeiro de 2022. A par do programa de Formação Certificada pela European Logistics Association (ELA), o prémio de Excelência Logística, em associação com a Accenture, trará fortes novidades para o próximo ano.
Mas acima de tudo queremos que a APLOG «entregue» cada vez mais valor aos seus associados, garantindo informação, formação e partilha de boas práticas. O objectivo final será o reforço de capacidade e competência das empesas portuguesas, de modo a permitir o seu desenvolvimento equilibrado e sustentável nos próximos anos.

*Entrevista publicada originalmente na edição 124 (Set/Out) da Revista Eurotransporte.


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