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“O Ford F-Max é o nosso às de trunfo”

17 dezembro 2019

Bruno Oliveira é o principal rosto da nova empresa que está no mercado dos veículos pesados, a OneShop - Distribuição Automóvel SA, este novo player entra no jogo com o trunfo forte, o camião internacional do ano 2019, o Ford F-Max.

O nosso interlocutor foi um pouco mais longe na entrevista exclusiva à EUROTRANSPORTE e levantou um pouco do véu, mostrando que outras cartas têm na mão.

 

Conhecendo o mercado onde se vai posicionar, a Oneshop SA está preparada para o enfrentar?

Estamos perfeitamente preparados para competir com os demais adversários com humildade, mas também com muita garra, determinação, seriedade e competência. Não esperem de nós passividade.

Mas tem consciência de que a concorrência é forte?

Perfeitamente. Mas o grupo de accionistas que está por detrás da Oneshop tem com imensa experiência no sector dos veículos pesados já com penetração em Portugal. Vamos respeitar a concorrência mas não vamos deixar de ir a jogo e apresentar as nossas cartas.

Cartas essas que passam pelo Camião Internacional do Ano 2019. Certo?

O Ford F-MAX é o nosso «às de trunfo». Mas não podemos ir a jogo apenas com uma carta. Vamos arrancar com um bom produto, bem acompanhado por uma equipa que é a melhor que existe no mercado, com muita experiência, o que me deixa bastante tranquilo. Esta é outra das nossas cartas fortes.

A sua formação é em engenharia mecânica. Até que ponto isso também pode ajudar a integração da empresa no mercado?

Dá-me, sobretudo, uma perspectiva diferente do mercado. Após ter terminado o curso, comecei logo a trabalhar num importador de referência em Portugal na área dos veículos pesados, onde tenho feito a minha escola no sector. Mas a gestão deste projecto é o principal objectivo e é nele que estou totalmente focado.

Qual o investimento previsto para a implementação do projecto?

Vamos arrancar na fase inicial, ou seja, para o primeiro ano, com 4 milhões de euros.

Mas vão apenas comercializar o camião?

Não. A Oneshop vai ter uma presença directa no retalho, muito embora não estejamos em todos os pontos do país. Já temos algumas empresas interessadas em trabalhar o retalho connosco. Vamos analisar e depois decidiremos em tempo por quais vamos optar.

Qual a estratégia com que vão abordar o mercado?

Várias. Em primeiro lugar dizer que para nós foi importante sabermos o que vamos fazer ao nível do produto. Este é um produto que traz um construtor agregado com enorme experiência nas viaturas comerciais, o que nos transmite confiança e qualidade. Queremos aparecer no mercado com um produto que tenha a melhor relação qualidade/preço, juntando-lhe preços operacionais competitivos.

Quer então dizer que apostam todas as fichas no camião Ford?

Não obrigatoriamente. Teremos o camião como um dos produtos de referência, mas vamos querer estar presentes nos principais segmentos de viaturas pesadas, como a distribuição, o longo curso e a construção. Pretendemos ter uma gama relativamente completa nestes três segmentos.

O facto do Ford F-MAX ter sido eleito Camião Internacional do Ano 2019, acelerou este projecto ou foi mera coincidência e tudo já estava programado?

Os nossos accionistas foram convidados pela Ford Trucks para ficarem com a representação e distribuição da marca no nosso país. Foi um desafio que aceitámos, tendo a consciência de que a Ford, apesar de ser uma marca com quase 60 anos de experiência nas viaturas pesadas, tem estado parada na Europa nos últimos 20 anos. Também por isso, este é um projecto desenvolvido especificamente para a Europa em função das necessidades que o mercado europeu exige. Mas não lhe vou negar que quando recebemos a notícia dos prémios que o Ford F-MAX ganhou, claro que nos deixou satisfeitos.

 Bruno Oliveira Oneshop

Qual a relação entre a Oneshop e a Ford?

Nenhuma. Apenas de amizade. A nossa relação é com a Ford Trucks.

Em que países está já a ser comercializado o camião?

O negócio dos pesados é, por si só, muito específico e faria todo o sentido ser a rede Ford comerciais a absorver o Camião. Contudo, as necessidades físicas dos pesados são completamente diferentes dos comerciais. Desde a maior dimensão dos elevadores, o espaço necessário para albergar os veículos de maiores dimensões até aos equipamentos de mecânica, tudo teria de ser revisto e trocado. A rede que a Ford tem em Portugal e na Europa, fisicamente, não se consegue associar aos pesados.

Por estas condicionantes, o camião está a ser comercializado apenas nalguns países do leste da Europa como a Polónia e Rússia. Vamos arrancar agora em Portugal, Espanha e Itália para, em 2020, entrar em França. E depois de termos o produto perfeitamente desenvolvido, a Alemanha é objectivo seguinte.

Quais os objectivos nacionais imediatos que tem em mente e que querem ver alcançados?

São vários e seria exaustivo enumerá-los todos. Queria apenas referir o nosso objectivo inicial que é começar a ganhar expressão no mercado. Sabemos que a nossa consolidação vai levar o seu tempo, mas com o empenhamento de todos e produtos atractivos, vamos conseguir o objectivo que passa por atingir 5% da quota do mercado no final de 2020.

Mas o nosso mercado não é demasiado pequeno para receber mais uma marca?

Para além da pequenez do nosso país e do seu mercado, temos ainda concorrentes extremamente desenvolvidos e evoluídos que vão realmente complicar o nosso trabalho. Mas isso vai permitir-nos desenvolver e criar proximidade com os clientes que se calhar não aconteceria noutro mercado. Há 30 anos que não temos uma nova marca de veículos pesados em Portugal. Vai ser bastante animado ver como o mercado irá reagir a este projecto.

Para o projecto vingar é importante ser acompanhado por uma rede concessionária. Já tem essa rede física ou ainda está apenas projectada?

Essa é outra das nossas preocupações que estão já pensadas e idealizadas. De imediato arrancamos com a rede concessionária em Lisboa, que estará a funcionar logo após a apresentação da empresa e do camião Ford F-MAX. Mas como é óbvio não vamos ficar por aqui. Já no próximo ano (2020) queremos estar em Leiria, Porto e Algarve, para em 2021 termos a funcionar os serviços em Viseu e Ilhas.

A rede que apresenta será servida de todas as valências?

Sim. Estamos alinhados com as práticas comuns do mercado em Portugal. A nossa rede vai contemplar as vendas, pós-venda, assistência 24 horas e assistência normal em oficina.

Os aspectos ambientais estão na linha da frente ou na ordem do dia, se assim entendermos. Esta é também uma vossa preocupação?

Estamos todos no mesmo barco relativamente ao ambiente. Nesta fase da electrificação ou nas energias alternativas, a Ford também já está com projectos avançados. Contudo, pessoalmente não estou seguro que o transporte de mercadorias através de veículos pesados passe, para já, pela electrificação. Relativamente a nós, vamos esperar para ver o que realmente vai acontecer sabendo que estamos o Euro 6D.

Outro dos aspectos importantes é o mercado de usados que começa a atingir níveis perigosos de escoamento. Tem essa consciência?

Estou fora há muitos anos do negócio directo dos pesados e o que me assusta neste momento é precisamente o que referiu. Ou seja, cada vez é maior a dificuldade em se conseguir escoar os veículos usados. Normalmente existe uma financeira associada que apoia a venda. Depois a marca apoia o pós-venda e no final dos contratos a financeira tem de receber os veículos vendidos.

Até aqui tudo bem, o problema começa com a instabilidade do mercado na Europa onde a pressão dos fabricantes em colocar camiões na rua é uma constante. Então criaram um produto que é uma espécie de short rent. O renting que era inicialmente a cinco anos, passou para dois. Resolveu-se o problema do construtor, mas agravou-se o mercado de usados que começou a receber muito mais veículos.

E os mercados de Leste e África não podem ajudar neste particular?

As dificuldades começaram precisamente quanto os países de Leste e África deixaram de vir à Europa comprar camiões. Tudo isto, em conjunto com as exigências das emissões europeias, inviabiliza a exportação de camiões usados mais recentes para países com menos intensidade de assistência.

Então qual a solução?

A solução passa por este mercado ter de ser um negócio gerido de forma integrada levando em consideração a venda do veículo novo e sobretudo a sua recolocação no mercado de usados. Não vamos «comer» matrículas, nem vamos trabalhar de forma a colocar camiões na rua só por colocar. Pretendemos gerir muito bem tudo isto para que possamos alcançar um compromisso que não nos deixe com um parque enorme de usados por escoar.

 

*Texto orginalmente publicado na Edição n.º 112 da Revista Eurotransporte.


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