"Sou um self made man e orgulho-me disso"

02 agosto 2019

As palavras são de José Manuel Costa, da Kikai Eventos, organizadora do expoMECÂNICA.

José Manuel Costa

Quando falamos da Kikai Eventos, organizadora do expoMECÂNICA, pensamos automaticamente em José Manuel Costa, que habitualmente vemos nos corredores da feira a conversar com os expositores ou a tentar resolver problemas de última hora. Entrevistá-lo no dia de abertura do certame poderia parecer impossível, mas, sem grandes cerimónias, José Manuel dispensou-nos 45 minutos do seu tempo para ficarmos a conhecer o homem por detrás do profissional.

Assim que perguntámos a José Manuel Costa, dias antes do arranque do expoMECÂNICA, se teria tempo para nós, a resposta foi imediata: "sem problemas!". Agendada a entrevista para antes do almoço, pediu-nos para adiar para a tarde, de modo a resolver assuntos urgentes. Em passo acelerado veio ter connosco à hora e local combinado, de sorriso nos lábios e, numa conversa informal, deu-nos a conhecer a sua história.

Com sotaque do norte, nascido e criado "no bairro tradicional de Miragaia, no Porto", José Manuel Costa recordou a infância, começando logo por revelar que "sonhava ser astronauta, até que percebi que tinha nascido em Portugal e o assunto morreu logo ali". Entre as principais brincadeiras estava "jogar à sameirinha, ou seja, à carica, nos passeios e escadarias de granito do Porto. Íamos às garagens arranjar rolamentos e depois às maçonarias fazer os carrinhos e era um daqueles miúdos que andava à guna, que era andar pendurado nos eléctricos, desde a Cordoaria até à Foz do Douro". Com algum saudosismo, conta que "era um menino de rua, que se fez à vida", razão pela qual se revê no livro «Capitães da Areia», do brasileiro Jorge Amado.

Desde cedo mostrou ter capacidade para a área comercial. "Com 12 anos era um daqueles miúdos que levava os turistas estrangeiros às caves de Vinho do Porto, hotéis, restaurantes e recebia comissões de tudo". E como é que se fazia entender? "Sempre tive apetência para as línguas".

A necessidade de trabalhar surgiu logo na infância, consequência de ter ficado órfão de pai aos dez anos. Com mais três irmãos tomou a iniciativa de começar a trabalhar e a estudar à noite e, "mesmo assim, consegui notas para ir para a universidade pública, tenho formação em relações internacionais, económicas e políticas, fiz erasmus em Barcelona e pós-graduação no Brasil. Sou um self made man e posso orgulhar-me disso!".

A ligação à Exponor remonta a 1997, quando foi contratado para desenvolver a área internacional da empresa. Pouco tempo depois, "a administração convidou-me para criar uma Exponor no Brasil. Eu, que tinha 27 anos, de forma muito simples, respondi «não me importo. Deixem-me só ir ver, se gostar, fico»".

José Manuel Costa

À procura de novos projectos

A ida para o Brasil é, certamente, um marco na vida de José Manuel Costa. A nível profissional, porque "foi aí que abracei este sector das feiras em definitivo. Cheguei a realizar dez certames por ano em São Paulo". A nível pessoal também porque foi aí que encontrou a cara metade, a quem se refere como "a minha Joana". Mas sobre o papel da família, falaremos mais à frente.

Trabalhou no Brasil durante 14 anos, "entretanto a vida levou-me para outros percursos, mas ficou este bichinho das feiras". Novamente a convite da administração da Exponor, regressou a Portugal e "voltei para uma casa que gostava, mas já não era bem a mesma. Ao fim de pouquíssimo tempo percebi não era exactamente aquilo que queria".

Foi então que tomou a decisão de criar um novo projecto: "já conhecia o trabalho da Sónia Rodrigues e entendi que em vez de inventar um negócio, porque não fazer aquele em que já estava e, modestamente, tinha algum jeito. Daí a criar a Kikai Eventos foi um palitinho, como dizem os brasileiros".

A empresa, composta actualmente por quatro pessoas, arrancou em finais de 2013, sendo que José Manuel "pensa mais na estratégia, gestão de produto, comunicação e vendas, enquanto a Sónia tem também funções na área comercial e tem o pelouro administrativo e financeiro", até porque, como confessa, "não tenho jeito nenhum para a papelada".

Sendo um homem de bom humor, mas de "pavio curto quando estou muito cansado e sob pressão", José Manuel Costa aponta como seu principal defeito "uma coisa que, curiosamente, deveria ser boa: a generosidade. Mas quando não sabemos dizer «não», ela vira-se contra nós". Depois de alguma ponderação, refere ainda "a ansiedade. Gosto das coisas bem feitas e de me organizar. Tenho muita dificuldade em lidar com pessoas relaxadas, no sentido do deixa andar". E por falar em coisas com as quais tem dificuldades em lidar, aqui estão outras: "falta de lealdade, gente que não cumpre, falta de frontalidade, o cliente que desiste da feira e manda a secretária falar connosco e não atende o telefone. Isso deixa-me doido!".

Quanto à principal qualidade, responde "a perseverança. Sou difícil de vergar. Este processo de vida deu-me um arcabouço emocional muito forte". Momentos como a morte do pai ou o problema de saúde que ainda está por resolver "fizeram-me perceber que isto é uma roda, às vezes estamos no topo, outras vezes estamos cá em baixo e, quando assim é, sabemos que daí para a frente é sempre a subir". Quando confrontado com estes episódios mais negativos, admite que nunca perguntou "«porquê eu?». Já me aconteceram tantas coisas boas na vida e também nunca me perguntei porque é que tive tantas alegrias". Revelou-se uma pessoa católica e com fé, razão pela qual afirma que "a minha crença é na lógica de que se me aconteceu isso é porque Deus acredita que tenho arcabouço para aguentar".

José Manuel Costa

As alegrias

Ao longo de toda a entrevista, o tema «família» surgiu várias vezes. "O trabalho é importante, mas a família está num patamar superior. Para mim é a base do sucesso", assegura. É com um claro orgulho e brilho nos olhos que fala dos filhos. O João, de 12 anos, "é o maior admirador que tenho a nível profissional. Já tem aquele espírito comercial e faz-me muitas perguntas. Conhece, talvez, por nome 50% das empresas que estão aqui". Quanto a Mariana, de 9 anos, "é uma menina barbie, gosta de brincar. Perguntei-lhe o que queria ser quando fosse grande e respondeu-me que queria ser criança". Foi também no decorrer da conversa que se recordou que tem uma promessa por cumprir com os filhos: ter um cão.

Outra das alegrias é viajar. Já perdeu a conta aos carimbos que tem no passaporte e foi-lhe muito difícil escolher um destino de eleição. Relembrou a viagem que fez quando já andava na faculdade, num Fiat Uno 45, com o irmão e uns amigos, onde foram pela "Europa fora, até à Ucrânia e voltámos por Barcelona, onde iria fazer o Erasmus". Certamente por razões diferentes, referiu também a viagem à Patagónia chilena e argentina.

Terminámos a entrevista com a pergunta: onde é que se imagina daqui a dez anos? Sem surpresas, foi peremptório: "no Brasil, de havaianas, t-shirt, calções, de mão dada com a minha mulher, a namorar".

 

*Texto originalmente publicado na Edição n.º 8 do suplemento Mais Eurotransporte


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